EPM celebra 90 anos discutindo futuro da saúde
Escola Paulista de Medicina encerra comemorações dos 90 anos com debate sobre futuro da saúde
Instituição da Unifesp realiza simpósio com temas sobre mudança climática, saúde mental e Inteligência Artificial
A Escola Paulista de Medicina (EPM), da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), fundada em junho de 1933, traz como parte final das comemorações dos seus 90 anos uma série de debates sobre o futuro da medicina, bem como temas atuais que impactam a área da saúde, como mudanças climáticas e o uso da tecnologia.
O evento ocorre de quinta (23) a sábado (25), com uma abertura solene no Auditório Leitão da Cunha, no Anfiteatro Marcos Lindenberg da Unifesp. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas neste link até esta quarta (22). A programação completa também está disponível no site.
O simpósio, chamado “90 Anos da Escola Paulista de Medicina, Rumo aos 100 Anos: Enfrentando Desafios Globais de Saúde”, tem como objetivo projetar temas para os próximos dez anos da instituição.
“Queremos trilhar a melhor estratégia no sentido de preparar os profissionais médicos para o futuro e também para o melhor atendimento possível”, diz Rubens Belfort Jr., professor sênior e presidente da comissão de celebração dos 90 anos da EPM.
“A gente quer celebrar os 90 anos discutindo temas que de fato importam”, diz Magnus Dias, presidente da EPM. Uma das características da escola é o “acolhimento ao diferente”, diz, já que a instituição foi a primeira a ter profissionais de distintas formações nos seus programas de pós-graduação da área médica. “A escola sempre foi uma instituição muito aberta à pluralidade de pessoas e ideias”, afirma Dias, que veio do Rio Grande do Norte para São Paulo em 1994 fazer residência na Unifesp e ficou desde então.
Um dos principais assuntos abordados será os efeitos da mudança climática e a saúde global. “Não existe saúde humana se não houver saúde do ambiente e saúde animal. É uma tríade que precisa andar junta”, diz Soraya Smaili, professora titular da EPM do departamento de farmacologia e coordenadora do centro Sou Ciência da Unifesp.
Especialistas já vêm alertando sobre as maiores possibilidades de catástrofes com as mudanças do clima. A exemplo disso, segundo a professora, são as cheias que acometem o Rio Grande do Sul desde o final de abril. “Existe a situação de emergência, resgate, reconstrução e tem uma série de doenças infecciosas que virão em virtude das enchentes, como leptospirose que surge com essa devastação”.
Outro aspecto da discussão é o crescimento populacional. “A pobreza com a superpopulação do mundo faz com que novas doenças infecciosas possam aparecer a qualquer momento e com que a gente, dentro da medicina, tenha que estar sempre conectado a esses aspectos da sociedade”, afirma Belfort Jr.
Além disso, ele destaca outro problema: as infraestruturas dos hospitais. “Quando a gente fala em mudança do clima e temperatura, isso também tem um impacto muito grande nos nossos hospitais, nos quais não existem recursos para regular a temperatura e propiciar o mínimo de conforto e segurança para o paciente”, diz. “É uma questão que a sociedade precisa avaliar o quanto ela está disposta a ter mecanismos de saúde mais eficientes. Os orçamentos são cada vez mais insuficientes.”
O orçamento é um tema pouco debatido na saúde, mas fundamental no desenvolvimento da medicina, afirma o médico. “Todos sabemos que os orçamentos na saúde são limitados, mas as pessoas esquecem que, com o avanço, necessita de orçamentos cada vez maiores”, explica, citando que o tema será abordado no simpósio.
As vacinas por doenças infecciosas são exemplos disso. “A descoberta de uma vacina é fantástica, mas a necessidade de comprar uma nova vacina, de criar toda uma rede de distribuição, necessariamente acarreta em maior incentivo. Os orçamentos não estão contemplando essas necessidades”, diz Belfort Jr.
O avanço tecnológico na medicina será tema da mesa Inteligência Artificial e Saúde Digital: Quais avanços e desafios. Além de discutir o uso da ferramenta em atendimentos e a telemedicina, importantes em situações de calamidade e tragédias ambientais, o debate será feito em torno de processos mais humanizados de atendimento.
“A medicina de precisão singularizada no conjunto de dados tem que caminhar na mesma proporção com uma medicina mais humanizada”, diz Dias, o diretor da escola. “A partir do momento que eu escuto o indivíduo e reconheço o seu contexto sociofamiliar e suas demandas, é possível fazer um planejamento do cuidado muito mais assertivo e garantindo que esse indivíduo tenha uma qualidade de vida melhor.”
O simpósio também trará discussões e pesquisas sobre os desafios que envolvem saúde mental, câncer e envelhecimento. Além disso, são convidados jornalistas, como a repórter especial da Folha Cláudia Collucci, artistas e poetas para o debate, que os especialistas julgam ser multidisciplinar.
“Nós precisamos dos especialistas, mas eles não conseguem mais trabalhar sozinhos”, diz Smaili. “Todos os grandes problemas nas ciências da saúde envolvem muitas disciplinas”.
Para debater tais temas, o simpósio reúne profissionais e especialistas de organizações como a Academia Brasileira de Ciências (ABC), a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e Academia Nacional de Medicina (ANM).